dossier wilson bueno

Wilson Bueno nos habrá legado no pocos textos marcantes, innecesario aquí subrayarlos. ¿A quiénes, nos/as? Cuestión abierta. Por de pronto, para algunos/as, que, en la experiencia de la amistad –no exenta, a ratos, de filosas discordancias–, habremos vislumbrado la móvil radicalidad de su escritura. Textos marcantes no sólo o no tanto en contexto curitibano o brasilero o aun latino- y/o ladinoamericano. Textos marcantes abiertos al descontexto o al contexto por venir en cada textura en que sus marcas marafas se entrelacen, confluyan y vuelvan inéditamente a desarmar todo contexto predeterminado. Otra vez: Wilson Bueno nos habrá legado no pocos textos marcantes, innecesario aquí subrayarlos. Allende la necesidad y la innecesidad del caso, con todo (y nada), cómo no hoy subrayarlos, económica y/o dispendiosamente, cómo no saludarlos.

reynaldo jiménez / andrés ajens junio 2010

viernes, 18 de junio de 2010

E a nave vai

Para Wilson, com amor


a fabulosa cidade de cotia-cotia, e vos digo fabulosa posto que existe apenas na imaginação das crianças, dos pássaros e dos homens e mulheres de boa vontade, luminosa de seus jequitibás-vermelhos com suas pequenas minúsculas quase mínimas flores perfumosas de um verão passado, ai esses verões cálidos e ardentes de águas de lavanda os rios com seus peixes furtacores e os narcisos espelhados...mas voltando a nossa fabulosa cotia-cotia lá estava ele, o macaco dependurado entre os galhos da frondosa figueira ensaiando sua próxima performance, se não me falha a memória para uma esperada audição no gran cassino acquastar naquela noite. entre um vocalize e outro, copinho e toalha dependurados solfejava um gargarejo de hortelã e gengibre para segundo ele apurar a voz um pouco enrouquecida pelo tempo mas ainda afinadíssima sopraníssima como nos tempos da juventude e em meio ao devaneio das doces quimeras foi interrompido por fraulen rrããs, a fiel camareira que lhe trazia o figurino para logo mais aquela noite. calções brancos que iam até a cintura descendo abaixo das coxas e uma camisa azul da prússia imitando a plumagem azulada e última moda lá pros lados de cotia-cotia. abrilhantavam o modelo uns sapatos carmim aveludados rematados na parte superior por umas fivelas de strass, precioso mimo copiado de uma ópera que passara pela cidade havia uns meses atrás. aprovado solenemente o traje com um meneio o macaco balançando as mãos encerrou este último ensaio já que estava em cima da hora para a tão esperada audição. o público se acotovelava no gran cassino acquastar, reduto das beldades da floresta o point mais freqüentado de cotia-cotia. uma capivara desfilava a última tendência fashion enquanto um grupo de onças reagiam – chic mesmo é a pele natural, ah... essa nunca cai da moda gente! de repente soou o último sinal e as luzes se apagaram quando no palco entre os cipós em meio aos holofotes surgiu a tão esperada atração da noite, o nosso querido macaco. com ares de galã tascou um besame mucho em lá maior enquanto um coro de sapos respondia ao fundo. ao amanhecer foi ovacionado pela multidão que pedia bis bis bis... queridos leitores nunca houve naquela fabulosa cidade um momento tão arrebatador, o nosso macaco solene fazia mesuras e acenava com as mãozinhas peludas para a turba que lhe devolvia o gesto com gritos de aprovação e entusiasmo. quando as cortinas caíram o macaco se sentiu galardoado por esta vida que afinal lhe dera o dom de ser lhe dera o tom e para os que estavam presentes neste sublime coroamento, entusiasmado cantou baixinho alvíssaras para ti, uma antiga canção que aprendera de ouvido, a sua preferida. com lágrimas nos olhos o petit-comitê saudou-o e também ao sol que já se levantava. Inesquecível este nosso macaco.


jussara salazar / curitiba

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